Aprendizagem - concepções contraditórias

Um dos conceitos que mais resistem às contribuições da ciência é o de aprendizagem. Isso não acontece apenas com pessoas iletradas ou pouco letradas, mas pode ser constatado em docentes de todos os níveis de ensino – justamente em pessoas que trabalham com a aprendizagem escolar. Por isso perguntei...

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Main Author: Fernando Becker
Format: Article
Language:Portuguese
Published: Universidade Estadual Paulista (UNESP) 2011-04-01
Series:Schème: Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas
Subjects:
Online Access:https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/scheme/article/view/552
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description Um dos conceitos que mais resistem às contribuições da ciência é o de aprendizagem. Isso não acontece apenas com pessoas iletradas ou pouco letradas, mas pode ser constatado em docentes de todos os níveis de ensino – justamente em pessoas que trabalham com a aprendizagem escolar. Por isso perguntei a alunos de pedagogia do terceiro semestre, da disciplina de aprendizagem, no primeiro dia de aula (agosto de 2007): (1) O que é aprender?, (2) O que é conhecer?, (3) Como se relacionam aprender e conhecer?, (4) O que é necessário para aprender um assunto completamente novo?, (5) Como se passa de um conhecimento mais simples para um mais complexo?, (6) Qual o lugar da motivação, do interesse, da afetividade ou da emoção na aprendizagem? e, (7) Quais as relações entre aprendizagem e memória?. As respostas, que recebi por escrito, oscilam entre um predominante senso comum e algumas poucas mais elaboradas, porém ainda distantes de uma compreensão crítica sob o ponto de vista epistemológico e das relações entre pedagogia, psicologia e epistemologia. Isso numa faculdade de educação na qual a Epistemologia Genética piagetiana é ensinada e relativamente respeitada. Refiro a Epistemologia Genética pela postura crítica profunda que ela traz das concepções de conhecimento e de aprendizagem no nível epistemológico e genético – da origem ou gênese da capacidade de conhecer e aprender – e das contribuições para a transformação científica desse conceito. O trabalho mostra que pouco se pode esperar em termos de transformações profundas no trabalho escolar, especificamente no ensino, pois a compreensão do processo de aprendizagem e de formação dos conhecimentos – além de problemas correlatos como as condições prévias para dominar um conhecimento novo, o avanço em complexidade dos conhecimentos, o lugar da motivação, do interesse, da afetividade e da emoção, a memória – da parte dos docentes pouco ou quase nada se distancia do senso comum. Os poucos avanços que se encontram não apresentam sustentação, pois aparecem desconectados entre si, não aparecendo articulados num corpo teórico. No fundo de todas as noções de aprendizagem aparece a convicção de que o conhecimento não passa de uma acumulação de aprendizagens, compreendidas como cópias; daí, a onipresença da estimulação como explicação das aprendizagens, independentes da atividade do sujeito.
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spelling doaj-art-72db834f3d5b4bbfaba967cb59fa61c82024-12-23T13:43:48ZporUniversidade Estadual Paulista (UNESP)Schème: Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas1984-16552011-04-011110.36311/1984-1655.2008.v1n1.p53-73Aprendizagem - concepções contraditóriasFernando Becker0Professor Titular de Psicologia da Educação do Departamento de Estudos Básicos da Faculdade de Educação (FACED) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Um dos conceitos que mais resistem às contribuições da ciência é o de aprendizagem. Isso não acontece apenas com pessoas iletradas ou pouco letradas, mas pode ser constatado em docentes de todos os níveis de ensino – justamente em pessoas que trabalham com a aprendizagem escolar. Por isso perguntei a alunos de pedagogia do terceiro semestre, da disciplina de aprendizagem, no primeiro dia de aula (agosto de 2007): (1) O que é aprender?, (2) O que é conhecer?, (3) Como se relacionam aprender e conhecer?, (4) O que é necessário para aprender um assunto completamente novo?, (5) Como se passa de um conhecimento mais simples para um mais complexo?, (6) Qual o lugar da motivação, do interesse, da afetividade ou da emoção na aprendizagem? e, (7) Quais as relações entre aprendizagem e memória?. As respostas, que recebi por escrito, oscilam entre um predominante senso comum e algumas poucas mais elaboradas, porém ainda distantes de uma compreensão crítica sob o ponto de vista epistemológico e das relações entre pedagogia, psicologia e epistemologia. Isso numa faculdade de educação na qual a Epistemologia Genética piagetiana é ensinada e relativamente respeitada. Refiro a Epistemologia Genética pela postura crítica profunda que ela traz das concepções de conhecimento e de aprendizagem no nível epistemológico e genético – da origem ou gênese da capacidade de conhecer e aprender – e das contribuições para a transformação científica desse conceito. O trabalho mostra que pouco se pode esperar em termos de transformações profundas no trabalho escolar, especificamente no ensino, pois a compreensão do processo de aprendizagem e de formação dos conhecimentos – além de problemas correlatos como as condições prévias para dominar um conhecimento novo, o avanço em complexidade dos conhecimentos, o lugar da motivação, do interesse, da afetividade e da emoção, a memória – da parte dos docentes pouco ou quase nada se distancia do senso comum. Os poucos avanços que se encontram não apresentam sustentação, pois aparecem desconectados entre si, não aparecendo articulados num corpo teórico. No fundo de todas as noções de aprendizagem aparece a convicção de que o conhecimento não passa de uma acumulação de aprendizagens, compreendidas como cópias; daí, a onipresença da estimulação como explicação das aprendizagens, independentes da atividade do sujeito. https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/scheme/article/view/552AprendizagemConhecerConhecimentoEpistemologia Genética Jean Piaget
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